A ABRAFE promoveu, no dia 15 de abril, mais uma reunião do seu Grupo de Trabalho de Energia (GT Energia), reunindo representantes de empresas associadas e especialistas do setor para discutir o cenário atual e as perspectivas do mercado de energia no Brasil. O encontro contou com a participação de Stefano Angioletti e Anderson Silva, da Grid Energia, além de representantes de diversas empresas do setor de ferroligas e silício metálico.
A apresentação técnica foi conduzida por Anderson Silva, engenheiro da Grid Energia, que destacou dois eixos centrais da discussão: a recente dinâmica dos preços de energia e os impactos dos curtailments — cortes na geração renovável provocados por limitações na rede elétrica.
Cenário de preços e mudanças no modelo de precificação
O primeiro tema abordado foi a expressiva volatilidade nos preços de energia registrada no início de 2025. Anderson explicou que, embora os preços de curto prazo tenham recuado após o pico observado em março, os valores de médio e longo prazo seguem elevados. Isso se deve à inclusão de um prêmio de risco e à adoção de uma nova modelagem do PLD (Preço de Liquidação das Diferenças).
A nova metodologia, mais responsiva e sensível às variações hidrológicas, passou a considerar com maior peso os piores cenários históricos de vazão, resultando em respostas mais rápidas e agressivas nos preços.
Essas alterações têm sido amplamente debatidas no setor: por um lado, refletem melhor os riscos e buscam garantir segurança no suprimento; por outro, aumentam a complexidade na gestão de contratos pelos consumidores.
Condições hidrológicas e armazenamento
O cenário hidrológico também foi tema de análise. De acordo com dados da Grid Energia, o período úmido de 2024 ficou abaixo da média histórica, afetando os níveis de armazenamento e as projeções de geração hidrelétrica para 2025.
Apesar de alguma recuperação recente — principalmente na região Sudeste — o Sul do país continua enfrentando condições desfavoráveis, o que pode pressionar os preços nos próximos meses.
Curtailments: impactos crescentes e falta de transparência
Outro ponto central discutido foi o aumento dos curtailments na geração renovável, sobretudo eólica, em função de limitações na capacidade de transmissão e de indisponibilidades técnicas — como a ocorrida no bipolo Xingu–Terminal Rio, em fevereiro de 2025. Naquele mês, os cortes atingiram 25% da geração renovável, segundo dados da Grid. O GT também discutiu os custos associados aos curtailments, que já somam quase R$ 2,2 bilhões entre 2021 e abril de 2025, conforme informações da Abrace. A falta de transparência na classificação dos cortes por parte do ONS foi outro ponto de atenção.
Alguns participantes alertaram ainda para o impacto desses eventos sobre contratos e financiamentos, com geradores já embutindo percentuais de risco entre 7% e 12% nos project finance.
Caminhos futuros: colaboração e representação
Encerrando a reunião, Stefano Angioletti destacou a importância da representação associativa como ferramenta essencial para enfrentar os desafios do setor. A ABRAFE foi apontada como um exemplo de articulação eficaz frente a temas complexos como curtailments, precificação e segurança do sistema elétrico.
Os participantes reforçaram a necessidade de colaboração entre empresas e especialistas, e sugeriram a realização de workshops técnicos promovidos pela ABRAFE para aprofundar a discussão de temas estratégicos — como o impacto da micro e minigeração distribuída no sistema.